"Capitães do Asfalto: O retrato de uma infância perdida invadiu o Festival Atos em CG"
Foto: Zarelly Souza. Arte/edição: Luiz Fernando. Em Campina Grande.
Pensei que o tédio nunca fosse se tornar minha companhia, mas em pleno feriado, eu me vi sem saber o que fazer. Todos viajaram e eu fiquei na Rainha da Borborema. Tentei um filme, uma faxina, ver o noticiário, mas nada acalmava a inquietude de uma jornalista “de folga”.
Recebi um convite para o teatro. Acontecia em Campina o Festival Atos. Na programação do último dia, o espetáculo Capitães do Asfalto da companhia Trupe dos Pensantes, oriunda do Crato, no Ceará, se apresentava no SESC Centro.
Quando vi um grupo de jovens, com idades entre 18 e 29 anos, trajados de mendigos, jamais imaginaria a grandiosidade do espetáculo que meus olhos e meu coração iriam prestigiar.
Baseado na obra Capitães de Areia, um dos melhores livros que já li do Jorge Amado, a peça trouxe a realidade de crianças que assim como os personagens de Jorge viviam a dura realidade de estarem sem um lar, uma família e que foram obrigados a abdicarem de suas infâncias.
Transportei-me há cinco anos e ao ver as cenas era como se estivesse lendo o livro novamente. Vi Pedro Bala, o líder dos capitães sofrer e lutar para percorrer o mesmo caminho de seu pai, que morreu lutando pelos que não tem voz. Vi Sem Pernas, o menino coxo, desgostoso da vida, vi professor, o mais inteligente, que lia histórias para os meninos que viviam no frio, com fome e sede, mas que tinham acima de tudo Sonhos e desejos em um mundo melhor. Vi e senti todas as emoções dos outros personagens.
Composta de atores, estudantes da universidade Regional do Cariri – URCA, o espetáculo contava ainda com músicos que deram as cenas mais beleza e sentimentos. A trupe dos Pensantes, trouxe para o Festival Atos a busca pela reflexão sobre a vida, o abandono, a marginalização, a realidade das mazelas sociais que vemos todo dia, mas fazemos questão de maquiar.
Em conversa com o Culta Campina, a diretora do espetáculo, a jovem Lorena Gonçalves, futura teatróloga, explicou que , apesar de jovens, os componentes trabalham muito com a questão social e que o objetivo dos espetáculos é provocar o público para que o mesmo reflita sobre as mazelas da sociedade.
“Nós trabalhamos muito com a questão social, não contamos só uma historinha por contar. A gente quer transformar o público para que ele saia refletindo, incomodado. Queremos que o expectador seja tocado” – contou.
Capitães do Asfalto é o retrato das nossas crianças que estão nas ruas, avenidas, viadutos, semáforos, sem estudo, sem comida, sem amor de pai e mãe, jogados a marginalidade, sem escolha. A peça nos traz além da reflexão a crítica aos governos e a sociedade civil que trata o problema social como algo natural. E pra finalizar, eu me pergunto através do rock da banda Plebe Rude: “ Até quando esperar a plebe se ajoelhar esperando a ajuda de Deus?”.
Thamires Tamares
(Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pela UFPB)
Confira em: http://www.cultacampina.com/post.php?id=62
2 comentários:
Obrigado pelo carinho e respeito...
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