Foto: Carlene Cavalcante |
Espetáculo agendado, à espera da realização; elenco pronto, a espera da ida; sala cheia de malas. À espera, talvez da boa vontade dos homens; apreço que não existiu pelo nosso trabalho, por aqueles que confiamos a mão que nos foi dada. Esta mesma responsável por tirar o nosso direito de representar aquilo que acreditamos, além de quase tirar também, sonhos.
Através de diários de bordos de Jeferson Vieira e Kleber Benício, trazemos um pouco do que foi nossa batalha para realizar o espetáculo neste evento.
"Prontos para viajar. Na sexta-feira, dia 30 de Janeiro, estávamos nós, Capitães, com malas prontas para irmos à Nona Bienal da UNE, que ocorrera do dia 1 a 6 de Fevereiro, no Rio de Janeiro, cujo o dia marcado para a nossa apresentação era o dia 5. Contudo, houve um imprevisto. Na realidade, mais que imprevisto, como posso dizer: uma verdadeira inescrupulosidade! De última hora organizadores da caravana - onde nossos nomes estavam inseridos (por direito) - publicaram outra lista das pessoas que iriam nessa caravana: nos excluíram, com justificativa de sermos um grupo de muitos membros, e que infelizmente precisavam nos cortar.
Com isso, a caravana partiu mesmo assim, com muitas pessoas indo apenas por desfrute/deslumbre da viajem, já que, alguns, não estavam com trabalhos para serem apresentados. Constavam apenas dois de nossos membros, isso por que estavam em outros trabalhos além do espetáculo Capitães do Asfalto.
Poderíamos ter desistido, porém optamos por lutar e fazer por onde irmos ao evento.
Na mesma Sexta-feira ficamos alojados na casa da nossa Diretora do espetáculo, Lorenna Lima, onde pesquisamos contatos para nos dar força. A única forma que encontramos de ir foi por conta própria, custeando essa ida.
Passamos o final da Sexta, o Sábado, Domingo, Segunda... Aflitos. Hora estávamos certos de que íamos à Bienal, hora não.
Recebemos apoio e ajuda financeira de amigos e simpatizantes do nosso espetáculo, até que por fim conseguimos garantir nossa ida na Terça-feira, 3 de Fevereiro.
Chegando lá, apresentamos. É imedível o tamanho da emoção que vivenciamos naquele momento. A energia do espetáculo esteve a todo momento viva. No término da apresentação fomos salvados com palmas, elogios e pessoas sensibilizadas com a obra. Quando o público ficou a par de tudo que passamos para está ali, muitos, além de se emocionarem juntos a nós, aplaudiram mais ainda, e alguns até mesmo nos confortaram e deram o grito de guerra conosco. Onde proclamamos a RESISTÊNCIA, esta que passamos para chegar até lá, fazer nosso papel e voltar, resistência esta que passamos para chegarmos onde chegamos e adquirimos o reconhecimento que estamos cada vez mais obtendo.
Foto: Wandeallyson Landim |
Foto: Wandeallyson Landim |
Desde que tudo tivera iniciado - a nossa exclusão da lista da caravana, e a nossa decisão de lutar por essa apresentação - aconteceram momentos de conturbações emocionais constantes.
A experiencia de estarmos "confinados", lutando em prol de nossa arte e das pessoas que desde o inicio nos apoiam, foi emblemática. Nos conhecemos melhor, criamos laços mais fortes, e acabamos concluindo que quando o trabalho é feito com amor de verdade ele consegue ascender por mérito! Por que ele tem um propósito. Por que além do propósito, por trás de tudo, existe uma equipe. Equipe esta que vem com a ideia de provocar reflexões sobre problemas sociais e valores SEM ESCRÚPULOS".
(Jeferson Vieira)
Foto: Carlene Cavalcante |
"Os dias aguardando um milagre nos trouxe união. A nossa força rompeu a ideia de apenas "é só mais uma apresentação". Conseguimos superar as dificuldades de condução e partimos para o Rio de Janeiro com fé, com determinação e o mais importante, representar aqueles que acreditam no nosso sonho. Não tenho muita compaixão pelas pessoas e foi vivendo com meu grupo nesses dez dias que comecei a ter. Os dez dias de convivência trouxeram-me observações acerca dessas pessoas. Vi brilho, vi alegria, vi paixão, vi tristeza, vi amor pela obra e pelos companheiros. Abandonei o pensamento de somente gostar do meu trabalho e passei a reconhecer melhor meu grupo. Nesses dias tive a prova de amor que algumas pessoas procuram. O que me move não é mais o amor pelo meu trabalho, mas sim a paixão que emergiu durante essa vivência".
(Kleber Benicio)
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