Firmes, fortes e VISÍVEIS

Foto: Verônica Leite
Superação!
Esta deve ser a palavra que mais insiste em está representando os Capitães do Asfalto em suas últimas vivências.
Mas não é claro que as crianças na/da rua vivem esta palavra? Na tentativa de superar a fome, o frio, a falta de abrigo, de afeto... Se eles, donos da palavra no qual falamos, tendem a passar por tantos obstáculos para sobreviver - melhor: para não deixar de viver -, porquê nós, com o papel de representá-los, abraçarmos suas causas, teríamos que deixar de viver os Capitães por dificuldades tão míseras para o ser que é artista - tais como cansaço, desentendimento, insegurança, tempo e afins -?

É possível vermos crianças, ou moradores de rua em geral, se unindo para suportar a prisão que á a rua. Se amontoam ao dormir, para que os corpos possam aquecer e superar a falta de cobertor. Podemos constatar por meio de atores que se dispuseram e dormir na rua, que não é nada fácil. "É triste, e parece que nunca acaba". 
Os Capitães vivem em nós! E não seriam situações desagradáveis e dificuldades de convivência que deveriam acabar com nossos sonhos enquanto representantes dos oprimidos. Muito mais que um espetáculo com fins aplausíveis. São dezesseis pessoas com o desafio de se manterem vivos: firmes, fortes e VISÍVEIS.

O grupo foi disposto a lidar com imprevistos e adaptações para o espaço, que foram e vêm sendo indispensáveis nas apresentações.
É importante deixar claro que este espaço que abriga a mostra não é um teatro. Lá funciona a sede da sociedade São Vicente de Paulo, que em parceria conosco cedeu o lugar, que foi adaptado por nós, Trupe dos Pensantes, para a realização do evento. Já que muitas instituições que deveriam abrigar a arte da região fecham as portas, criamos um espaço alternativo, de forma totalmente independente - sem apoio ou incentivo financeiro de nenhuma instituição ou entidade -, para ser abrigado o nosso trabalho: a nossa arte. 

Foto: Verônica Leite
Esta adaptações do espaço requer muita criatividade e união do grupo, sujeitos a serem criadores, desde a fatores de infraestrutura (seja tapando buracos ocasionados pela idade do prédio, ou pintar toda a faixada) a mudanças na composição dos espetáculos.
Um exemplo disso, visto nas apresentações dos Capitães do Asfalto, que com o apoio do iluminador, Danilo Brito, que fez ser possível criar atmosferas com as possibilidades de iluminação no lugar, se apropriando, por exemplo, de uma janela do prédio para a entrada da personagem Mãe Aninha. 
Experiência como esta mostra autonomia criativa do grupo. Já que não é dado a direção dos espetáculos a total responsabilidade no fazer; a criação e busca de estratégias é coletiva.

Os Capitães contaram com uma platéia calorosa neste fim de semana na Mostra de Espetáculos Trupe dos Pensantes. E melhor ainda, contaram com a presença de um grupo que é referência na construção do espetáculo e dos trabalhos realizados pela Trupe. A companhia do Tijolo, de São Paulo, se fez presente, e foi um presente, para o último dia de apresentação dos Capitães do Asfalto. Garantiram uma incrível vivência de troca de saberes, que tomou conta do espaço ao final do espetáculo.

Foto: Lívio do Sertão
Assim, mais um desafio foi vencido. Mais um obstáculo foi superado pelos Capitães, e mais uma conquista foi dada ao grupo que compõe a Trupe dos Pensantes. Nesta noite, aprendemos o valor que têm fomentar discussões , e mais do que receber aplausos e elogios, trazer ao público um discurso que eduque, que gere reflexões. Entendemos que não se faz nada sozinho, que sempre temos muito a aprender com o outro, e aprendemos também que: tudo tem seu tempo.

Foto: Lívio do Sertão

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